31 de março de 2010

A entrevista que faltava (mas não chumbou por faltas)


O Mundo pedia, a humanidade ansiava e nós fizemos-lhes a vontade. Numa entrevista inédita, uma conversa franca, aberta e pouco directa ao assunto com Isaltina Cardoso-Ferreira, a mulher que se perde nas palavras. Fica aqui a entrevista em versão integral (dado que a versão com as calorias todas engordaria bastante o servidor) da mulher que tem mais de 600 clubes de fãs em todo o Mundo, cerca de 3 milhões de seguidores no twitter e para cima de 15 quilos de batatas na sua despensa.
-Antes de mais nada, muito obrigado pela sua disponibilidade. A senhora tem noção da sua fama?
-Obrigado eu. Sabe que eu sempre fui muito bem educada pelos meus pais, deus os tenha, por isso tenho que é agradecer a este blog pelo convite. E é um blog de que eu gosto muito, eu adoro andar pela internet a ver blogs e este é um que eu leio com bastante frequência, os meus parabéns porque têm mesmo muita piada. Eu até digo ao meu Alberto, “Oh Alberto põe mas é os olhos nisto que isto é que tem piada, não são essas coisas que vês na televisão sem pés nem cabeça, e quando vieres traz-me também a máquina de barbear para eu me depilar cá em baixo”. É muito bom rapaz ele e faz tudo o que lhe digo mas tem um defeito enorme: é mentiroso, raisparta lá o rapaz que é mentira atrás de mentira, até parece o Sócrates. E eu da primeira vez até votei nele que me parecia bem mas a mim já não me engana mais. Ai, desculpe que já me perdi, respondendo ao que me perguntou, eu dou bem conta que toda a gente me conhece. Até lhe dou um exemplo para compreender bem o que lhe estou a dizer. Ia eu muito bem num shopping lá para os lados de Santa Comba Dão quando um senhor me aborda assim na rua: “olhe desculpe, você não é a Isaltina?” e eu até tive três reacções: em primeiro fiquei espantada com a lata do homem que não me conhece de lado nenhum porque eu sou de Murça e nem tenho nenhuma família em Santa Comba Dão, depois porque me tratou por você em vez da senhora e isso irrita-me e em terceiro achei piada porque me conheceram e eu disse que sim e perguntei se queria um autógrafo e ele disse que não, era só para me dar o cartão de cidadão porque tinha caído ao chão e ele viu o nome e achou que eu era a senhora da foto. Mas já que falamos nisso eu acho mal fazerem os cartões tão pequenos, perdem-se facilmente na carteira ou em casa, se tivermos crianças até os podem meter à boca e com isso não se brinca.
-Muito bem. Quando descobriu que se perdia nas palavras?
-Olhe eu já antes me tinha perdido duas vezes e foi sem ser nas palavras. Primeiro, perdi-me na escola primária uma vez que fomos à Bracalândia e eu fui à casa de banho sem dizer nada e depois ficaram todos à minha procura e eu não sabia deles. Outra vez foi quando eu e a minha vizinha fomos fazer uma caminhada e passamos de Jou, depois já não sabíamos voltar para trás, a nossa sorte foi que o marido dela a andava a encornar com a viúva do padeiro, deus o tenha, e estavam no meio do monte a montarem-se e econtraram-nos. Uma jóia de homem, aquele Belarmino e a minha vizinha não o trata como deve ser, depois queixa-se que ele anda por aí com esta e aquela. O que é que me perguntou?... Ai já sei, desculpe lá, é que isto está sempre a acontecer-me. Como é que descobri que me perdia nas palavras, não foi? Sinceramente não sei mas o meu Alberto diz que foi uma vez que comprei uma broa de milho ao padeiro e já era de ontem, de ontem não, do anterior, mas você percebeu, não percebeu? e eu disse-lhe tantas que a meio já não sabia quantas lhe tinha dito. Mas não tenho a certeza, isto é o que diz o Alberto, também uma pessoa não se pode acreditar em tudo que lhe contam senão ainda acontece como à minha falecida tia Joaquina, deus a tenha, que uma vez foram lá a casa com falinhas mansas e assinou e uns papéis, quando foi a dar conta tiraram-lhe três mil contos que tinha no banco. Três mil contos na altura ainda era muito, lá foi ela e o marido, o meu rico Óscar para a Suíça outra vez, ela como doméstica e ele como trolha que trabalharam lá como cães e já não iam para novos.
-Estou a perceber. Conhece alguém que seja como a senhora?
-Para lhe responder a isso tenho de lhe contar uma história, mas é uma história que se passou mesmo, se quiser o meu Alberto está de testemunha, porque normalmente quando se diz história é história de letra e vai-se a ver e não é nada verdade, até lhe contava o que fizeram à minha falecida tia Joaquina, mas não deve ter muito tempo e pachorra para isso por isso conto-lhe só a minha história. Ia eu e o meu Alberto um dia a comermos uma francesinha que ele gosta muito, eu nem acho lá muita piada meter a carne no pão, parece que estamos a brincar com a comida que deus nos deu mas pronto, naquele dia lá lhe fiz a vontade. Mas olhe que só lhe fiz a vontade nisso, quanto a meter por trás não deixo que não sou nenhum dessas galdérias que para aí andam a estragar os casamentos dos outros. Então fomos a um restaurante bom nessas coisas lá para os lados de Provezende e digo-lhe que aquela francesinha estava uma categoria, gostei muito. Íamos para pagar e o meu Alberto tinha-se esquecido da carteira no carro, que na altura era um Ford Focus que não nos durou muito, o raio do carro estava sempre a dar problemas e mal acabou a garantia o meu Alberto foi a Vila Real trocá-lo e agora temos um Chevrolet que se quer que lhe diga nem sei o nome do modelo. Enquanto ele foi buscar a carteira ao carro eu fiquei na conversa com a moça que era neta duma amiga da minha costureira. Conversa puxa conversa e quando fomos a dar conta já se tinha passado meia hora. E eu achei a rapariga muito simpática e muito parecida comigo só que ela era mais gordinha.
-Além desse, digamos, problema, tem mais algum?
-Eu queria dizer-lhe se não fizer mal que eu não gosto da palavra problema porque vem-me logo à cabeça quando a minha filha se meteu com um preto e depois ele roubou-a, já sabe como são esses catingas, e foi o cabo dos trabalhos que a família ainda era pior que o rapaz, depois juntam-se todos e está o caldo entornado. Podemos então usar outras palavras como anomalias que até dá um ar de importante. Eu sei porque o meu advogado diz muitas vezes essas palavras. Não fique a pensar mal de mim por ter advogado mas houve uma altura que precisamos para resolver umas coisas duns terrenos que me queriam fazer gato por lebre e eu não deixei e falei com ele. E eu anomalias se quer que lhe diga tenho algumas mas também não vou dizer todas senão estávamos aqui a tarde toda e ao mais isto também é nenhum confessionário, valha-me o meu santo antoninho que para me confessar confio mais nele do que no padre, veja lá que aqui há dias disseram que o apanharam em cima duma beata. Por isso eu digo-lhe duas das minhas anomalias e o senhor fica contente e eu também fico e o meu Alberto também que ele não gosta que se fale da disfunção eréctil dele e eu percebo-o por isso não vou falar disso. Uma anomalia é eu esquecer-me às vezes de coisas e ainda por cima quanto minto esqueço-me mais depressa e caçam-me, já dizia a minha avó é mais fácil apanhar um mentiroso que um coxo e ela sabia bem que o meu avô era coxo e corria como um maluco. A outra anomalia que eu tenho é gostar da comida muito apurada mas também quem nunca pecou que atire a primeira pedra.
-Então é melhor terminarmos a entrevista que eu tenho que ir ali fora atirar uma pedra. Muito obrigado, dona Isaltina. Caros leitores e seguidores do blog, muito boa noite e está na hora de tomarem alguma coisa para o estômago.

1 comentário:

Tiago Lopes Botelho disse...

"e quando vieres traz-me também a máquina de barbear para eu me depilar cá em baixo”

"Mas olhe que só lhe fiz a vontade nisso, quanto a meter por trás não deixo que não sou nenhum dessas galdérias que para aí andam a estragar os casamentos dos outros."

BRILHANTEEEEE

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