26 de abril de 2012

Não confiem em quem vos engana a dar o troco

O seu levantar descoordenado e tropeço e os olhos fulminantes à procura de um cigarro diziam quase tudo sobre a noite que tinha passado. A gorda, escondida sob os lençois - não lhe escondiam uma perna que se assemelhava a um presunto com celulite - calada, dizia o resto.
Enquanto a gélida sanita o fazia tremer e jurar nunca mais comer arroz de marisco, tentava em vão recordar-se do que havia acontecido. O que tinha feito nessa noite não sabia, o que tinha feito ali era uma obra de arte. O acaso do olhar de relance para a sanita antes de puxar o autoclismo transformou numa obra de arte aquilo que a efemeridade podia ter levado canos abaixo. Boiava sobre a água uma nossa senhora feita de merda. Milagre, diriam alguns, merda, diriam outros, não devia mandar ácidos logo de manhã, disse ele.

24 de abril de 2012

Eram praí 7 e pico

Sob o nascer do sol, que aclarou todo o vale, Emílio e Taborda abordam sentados com uma mini na mão temas variados da sociedade actual.
-A culpa disto andar assim é do Alfredo da funerária, desde que violou a filha do coveiro nunca mais foi o mesmo.
-Isso também já mo disse a Emília da pensão.
-Já viu o que aconteceu ao Tó perneta?
-Não, o que foi?
-Também não sei.
-E o nosso Rebarbadães?
-Oh num se safam este ano. O nabo do treinador emborracha-se antes do jogo e depois não sabe o que faz. Então ele mete-me o Sané a lateral quando ele é o melhor trinco da equipa? Por amor de deus, se eu mandasse já tinha sido despedido há munto.
-Oh também não é só defeitos o homem. Ele meteu na ordem o Palhuca que agora anda a correr mais.
-Pois é.
-Sabe o que lhe digo?
-A culpa disto andar assim é do Alfredo da funerária, desde que violou a filha do coveiro nunca mais foi o mesmo.
-Não diga essas coisas.
-Digo pois.
-Já viu o que aconteceu ao Tó Perneta?
-Andou a vender droga e apanharam-no.
-Isso também já mo disse a Emília da pensão.
-Oh também não é só defeitos o homem. Ele meteu na ordem o Palhuca que agora anda a correr mais.
-Isso é verdade. Ele agora limpa as ruas que é uma maravilha, antes demorava dois anos a fazer cada rua.
-Pronto então.
-E o nosso Rebarbadães?
-Vamos ser campeões, limpamos tudo.
-Não duvido!!

17 de abril de 2012

Jesus? Obviamente, demito-o

Notaram porventura a minha ausência do blog que durou cerca de sete meses. Sete foram os meses em que acreditei que o Benfica brilharia e que me foquei única e exclusivamente no futebol do glorioso. Agora que conquistamos a Taça da Liga posso voltar a concentrar-me no blog, visto que os objectivos desportivos foram atingidos com sucesso. Apresento-vos pois então Dyrk deVossen, heterónimo holandês do ribatejano Macedo Beltrano, autor de um espólio poético surrealista que surpreende os menos preparados. De escrita dura, carregada de sangue e do fardo que foi perder o namorado aos 17 anos num acidente de carro, deVossen é irregular na sua profissão. É frequente vê-lo a jogar ao chincalhão em esplanadas do centro de Amestardão, onde reside com a amante e o rinoceronte bebé que adoptou. Fiquem com dois poemas do autor que, nas suas palavras pretende "cuspir poesia nos murais do facebook".

Zakorakis
Tragédia grega se abateu
sobre os corpos
inertes
mudos
quedos
incrédulos
dos soldados
portugueses
no chão.
Das terras de Sócrates marcharam
11 soldados que não conheciam a morte
saíram vitoriosos
seis batalhas
uma guerra
uma taça.
E o Ricardo, aquele frangueiro de merda. Se não fosse ele tinhamos ganho!!!!

Pintura Demoníaca
Observo um quadro que me incomoda
Foco os olhos, carregados de terror
Dos passageiros de um Ford  Skoda
Dois faleceram, sobreviveu o condutor

Dele se dizia ser fenomenal, intransponível
Corajoso, capacitado, capaz
Abalroado numa passagem de nível
Sobre a linha do comboio jaz

A face pálida denuncia a situação
A cozinha é fria, irrespirável o ar
Um prato vazio de arroz de feijão
Motivo do óbito: intoxicação alimentar

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