Os investigadores forenses já lhe conheciam as manhas, os disfarces, os gestos, as falas mas nunca lhe puseram as mão em cima. Lançaram inúmeras campanhas, soltaram-lhe cães, gastaram meios e pessoas mas nunca o caçaram! Porquê? Não sei e se soubesse não ia dizê-lo num blog com o título "Coisas Estúpidas, mesmo estúpidas"
Otávio, seguia sempre o mesmo ritual. Antes de qualquer assassínio, vai à Barraca da Comissão de Festas, come um pão com alheira e toma um café com cheirinho. Daí, as migalhas secas na sua t-shirt que exibe orgulhosamente o texto "Construções Santos", t-shirt essa que faz um belo conjunto com o Boné da 65º Volta a Portugal em Bicicleta e o fato-macaco que a CP distruibuíra gratuitamente no seu 75º aniversário a todos os funcionários. No meio do arco-íris que eram as suas roupas podia-se observar um rosto fechado, sujo, envelhecido que não tinha pudor em ostentar marcas da Guerra Colonial e da zaragata da festa de Casal de Loivos de 93 em que o Zé das Alminhas havia perdido um braço e uma fartura.
O seu cadastro tinha mais páginas que a biografia oficial de Fidel Castro (biografia que não existe, logo basta o cadastro ter uma página para ter mais páginas que a biografia supracitada). Nele constavam todos os casos que a comunicação social nunca quis transmitir para não chocar a sociedade civil, a mesma sociedade civil que ostracizara Luiz Felipe Scolari após a derrota na final do Euro 2004.
Mas na aldeia, nesse limbo de emoções aquando da altura da matança do porco, o nome de Otávio corria as ruas da armagura. Tudo por aquela sacholada bem aplicada no cachaço de Silvério Matias, podador de profissão, ex-presidente da junta e militante activo do Partido da Terra. Tudo devido a quezílias que incluiam um terreno, dois porcos e uma prostituta brasileira. (Vá, pronto... Não inclui nada um terreno nem dois porcos!)Já lhe tinham sido perdoadas as mortes anteriores mas esta foi a gota de água. Ironia do destino para alguém que, segundo vozes da aldeia, "andava sempre na gota".
Na cabeça de Otávio passa a fuga para o Luxemburgo para junto dos seus filhos que trabalham numa empresa de limpeza de centros comerciais. Mas sabe que não seria fácil viver longe do ambiente rural , do cheiro a fezes de animais, da oportunidade de assassinar um campónio, do café com cheirinho da barraca da Comissão de festa, da Ivone, sua companheira de sempre (a troco de 25 euros, é claro). A vida foi madrasta para Otávio.
2 comentários:
Parece um texto daquel alentejano que ia regularmente ao levanta-te e Ri, o Serafim. Isso declamado a um público ia fazer um sucesso.
Pena o texto não rimar...porque se não, meu filho... ;) ehehe muito bom mesmo assim!
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