30 de junho de 2010

Hélder e os Outros

Hélder era apenas mais um dos do seu grupo, sem pensamentos próprios que o diferenciassem substancialmente dos restantes membros. Era reconhecido dentro do grupo, mas nunca individulamente, tomemos por exemplo o pensamento de dona Alzira: "Ali vão aqueles. Nunca se deslargam." Nem uma referência individual, nem um Pedro, ou um Fernando, ou um Daniel, aqueles, apenas aqueles. E quem eram aqueles? Era fácil reconhecê-los: t-shirt cor-de-rosa e/ou com brilhantes, sapatilhas prateadas e uma pequena porção de cabelo na parte anterior da cabeça superior ao resto do cabelo (vulgarmente denominada essa parte por "rabbinho de cabelo"). As alusões ao grupo eram maioritariamente depreciativas e incidiam sobretudo sobre o seu vestuário e sobre o facto de andarem sempre em grupo. Não sendo propriamente fluentes na língua de Camões eram mestres a discutir desportos motorizados e iam com frequência (em grupo, pois claro) a concentrações e convívios do género.
Hélder um dia vestiu camisa, trocou o house pelo kizomba e fez novos amigos. Nunca mais foi o mesmo, literalmente. Morreria duas semanas depois numa rixa numa discoteca de ritmos africanos. No leito da morte, a sua amiga Mônica não deixou de dizer "Meu Helderzinho". Depois de morto, finalmente, a alusão ao seu nome em título individual, o que não lhe paga a vida, muito menos os sapatos encharcados de sangue.
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