23 de março de 2020

Uma história de amor

Era aquilo que a sociedade poderia chamar de “cãozinho bom” se a sociedade se lembrasse de por assim nomes por dá cá aquela palha mas desinfeta-a primeiro se faz favor. Prestava atenção e obedecia a tudo o que o dono lhe dizia, fosse isso “senta”, “tá quieto”, “dá a pata”, “preciso que me compres 30 pacotes de papel higiénico”, “tou todo mamado, para quê é que bebo?” entre muitos outros exemplos de conversas que só dá para ter entre um dono e um cão ou entre José Sócrates e Carlos Santos Silva.
Eles eram felizes - o dono que se chamava Pipoca e o cão que se chama José Manuel de Freitas da Silva. Mesmo o facto de ter um nome tão comprido (todos nós admitiríamos que o “de” antes de Freitas e o “da” antes de Silva são excessivos, mas foi assim que o Pipoca lhe quis chamar e na verdade quem somos nós para julgar o nome que alguém dá ao cão que adoptou, alimentou, cuidou e educou?) nunca foi impedimento de responder à primeira chamada- este cão era também o sonho de qualquer operador de um contact center de telemarketing se fosse capaz de pelo telefone aceitar a mudança de operador de serviços de televisão, internet e comunicações. A vida destes dois podia ser chamada de mar de rosas se o Pipoca soubesse nadar ou se pelo menos houvesse evidência científica que as braçadeiras são tão eficientes num mar de rosas como são num mar normal.
Quem vem a ler com atenção estará à espera que agora venha uma reviravolta, um “mas” que vire esta história ao contrário como se esta história fosse a bandeira portuguesa e o seu autor o Cavaco Silva antes de se enfiar no sarcófago. Como é óbvio, vocês estão cheios de razão, não fossem vocês todos gente inteligente, com bom gosto, família bonita, carro bonito e casa com muito espaço à volta para que a canalha ande a correr dum lado para o outro e chegue ao final do dia cansada demais para fazer birra na hora de comer a sopa. Vamos lá então virar o bico ao prego, que é como quem diz vamos lá ver como é que o Pipoca e José Manuel de Freitas da Silva deixaram de ser essa dupla imbatível, como é que eles deixaram de ser o Maradona e o Canniggia do século XXI, e é bom que isso venha depressa que os tempos não estão para perder tempo, todos nós temos coisas mais úteis para fazer.
Então um dia foram ver o jogo do Régua com o Abambres - claro que eles estavam pelo Régua, só quem nunca viu o MÁGICO LEONEL AZEVEDO com a bola nos pés poderia querer outra coisa que não uma goleada das antigas, do tempo em que farmácia era pharmacia e que ainda havia respeito, com os jogadores do Abambres a saírem mais rebentados do campo do que a Bárbara Guimarães saiu do casamento . A bancada estava ao rubro, os tambores não se calavam, a relva estava regada, os presidentes estavam já bebedos do almoço antes do jogo, tudo estava pronto para um recital de futebol. Tudo menos o José Manuel de Freitas da Silva que desta vez não queria saber da bola desde que viu uma beagle a ostentar uma t-shirt antiga do Abambres ainda com o patrocínio da McDonald’s. Aquela beagle, diziam que se chamava Bianca, era tão encantadora que a palavra encantadora parece impotente para caber em si todo o encanto emanado, o José Manuel de Freitas da Silva era agora um poeta à procura de palavras novas se bem que se formos a ser verdadeiramente rigorosos de pouco lhe serviam já que um cão não as consegue falar ou escrever.
Vamos agora saltar um bocado desta história e fazer um resumo do que aconteceu naquela tarde no Muncipial Artur Vasques sem nos perdermos em pormenores que não interessam nem ao menino Jesus nem à Cristina Ferreira - o José Manuel de Freitas da Silva abordou a Bianca e além de levar uma tampa e ganhar conhecimento que ela já estava prometida a um pitbull chamado Hulk, ainda foi mordido.
Aí José Manuel de Freitas da Silva deixou de ser um cão de respeito, juntou-se às más companhias, preferindo o prazer instantâneo da rua aos carinhos sinceros do pobre Pipoca. Aqui é quando a história fica mesmo triste, tão triste que nem a vamos acabar. Em vez disso, uma anedota:
-senhor doutor nasceram-me estes pelos todos, de quê é que eu padeço?
-você padece um udso

Sortuda a Rita Pereira

João Lima Telles é obeso desde os 5 anos. As suas semelhanças com o Boneco da Michelin já lhe valeram muitos dissabores mas também entradas gratuitas em eventos. Desde que se habituou à torre de Pizza ao pequeno almoço ganhou uma sensibilidade literária que desconhecia. É verdade que o facto de não caber em nenhuma porta lhe aguçou a escrita.
Desenvolveu uma paixão incurável pela Rita Pereira e todos os dias lhe dedica poemas no Instagram, uns bons, uns assim assim e outros que fazem o satélite de comunicações móveis pensar “a sério que ando aqui eu a milhares de quilómetros de casa a comer com meteoros no focinho para este otário escrever isto?”. Os melhores foram selecionados para uma edição especial de cupcakes de farinha de mandioca. Antes de irem para as prateleiras mais hipsters do país, podem lê-los aqui:

Rita tu és mais doce que nutella
Lambuzar-me-ia com a tua pele
Pergunto como podes ser tão bela
Vales mais que as ações da Taco’s Bell

Quem me dera que fosses um ecrã tátil
Meu rico presunto de cura selecionada
Escolher-te como mulher é tão fácil
Como escolher entre batatas e salada

Tanta perfeição deixa-me incapaz
Olho-te e não encontro qualquer falha
Quem me dera um dia ter-te à Brás
Para te acompanhar com batata palha

Isto também não é assim

-Onde já se viu agora estes gajos pensam que são não sei quem para se virarem para mim “ah e tal mas como é que é? Pensa que isto é o quê?”
-Vá, acalme-se que eles também não fizeram por mal.
-Não fizeram por mal, fizeram por bem, quer-me dizer? Ouça eles não sabem com quem é estão a falar
-Pois não devem saber
-Não sabem mesmo. E garanto-lhe já que isto não fica assim. Ai não fica não.
-Vá, tenha lá calma.
-Tenho calma nada, se fosse consigo também não ia achar piada. Ou acha que agora isto é assim?
-Pois.
-E digo-lhe mais, é bom que esses gajos não voltem a falar comigo assim que eu não sou os colegas de escola deles.
-Pois não é mesmo.
-Não acha que tenho razão? Esta gente eu não sei onde é que eles pensam que estão.
-Pois tem razão.
-Isso sei-o eu. Já não pode uma pessoa estar sossegada a bater uma punheta na rua!

18 de março de 2020

IRONIA NAS REDES SOCIAIS


Minhas queridas e estimadas lascas de presunto que ficaram esquecidas e que agora estão mais duras que a barriga de um adolescente nigeriano, vamos falar do maior problema que assola a sociedade moderna.
Falo-vos como é óbvio daquelas pessoas que tentam ser irónicas nas redes sociais e a seguir sinalizam essa mesma ironia. São pessoas que colocam frases que normalmente até têm muito pouco de ironia e logo a seguir colocam a hashtag #ironia ou um comentário a dizer “fui irónico”.
Ponto número um: estas pessoas são estúpidas.
Ponto número dois: vou-vos ensinar o que é ironia. Ironia é eu dizer que preferia comer um balde cheio de merda do que ler as vossas publicações. Como é óbvio, por muito estúpidos que vocês sejam , eu ia preferir sempre ler as vossas publicações do que comer merda. Isto é ironia: dizer subtilmente o contrário do que se pensa.
Se logo a seguir vão dizer que estão a ser irónicos, já deixaram de o ser. Irónico, não é?
Para que tudo isto não fique demasiado sério e para vos ocupar com coisas mais interessantes do que perceber se o saco arroz agulha da marca branca do Pingo Doce tem mais ou menos grãos que o saco de arroz basmati Pato Real, fiquem com algumas reflexões e decidam se são irónicas ou não:
a) O melhor do mundo são as crianças. Já dizia o Carlos Cruz
b) A fome é áfrica não é um tema importante. É só uma coisa de crianças.
c) José Sócrates é um homem inocente.
d) Isto do Corona só vai ao sítio com o André Ventura.
e) Gosto muito de estar de diarreia porque sinto que os meus peidos cheiram melhor do que normalmente
f) Se bebermos água de 15 em 15 minutos não matamos o vírus. Só mijamos mais

17 de março de 2020

Puta que pariu


Trago-vos a análise que faltava na língua portuguesa, hoje vamos falar sobre a puta que pariu.
Neste micropaís que se inicia a norte do rio Mondego não faltam no dia-a-dia um belo foda-se ou um caralho, que saltam da boca de todos nós como se a nossa língua fosse um trampolim de palavrões. O palavrão, no norte do país, não é um impropério mas sim um vocativo que dá um colorido tinto às nossas frases.
Mas por mais que tentem, nenhuma veborréia se aproxima da inimitável puta que pariu. Olhando à epistemologia da frase, Puta que pariu seria uma qualquer Tatiana da vida a quem a pressa, o descuido ou a vontade do cliente levaram à não utilização do preservativo. Nove meses e uma baixa sem direito a pagamento da segurança social depois, Tatiana daria à luz um petiz que seria meio filho dela, meio filho do mundo. Consumado o nascimento do filho, dar-se-ia então a Tatiana o título da puta que pariu.
Pois bem, puta que pariu é tudo menos isso. Puta que pariu adjetiva tudo o que é incrível, positivo ou negativo. Puta que pariu é a mais democrática das construções da língua portuguesa.
Puta que pariu mais um recorde de golos do Ronaldo ou puta que pariu este patrão que esperou até às 5 da tarde para me entregar uma pilha de trabalho. Puta que pariu tanto dinheiro que eu ganhei ou puta que pariu esta chuva que nunca mais para.
Puta que pariu para o bem e para o mal, tudo o que é inexpectável, tudo o que ultrapassa os limites da normalidade assenta-lhe bem.
Em suma, puta que pariu isto tudo!

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