2 de novembro de 2010

Poesia de Alfredo Heitor Tomo II: Nunca como hoje

Numa fase mais introspectiva e sombria Alfredo criou poesia negra. Estas composições surgiam principalmente nas aulas de Análise do Discurso e da Imagem, onde ele escrevia isto fingindo estar a tirar apontamentos. Hoje fiquem com "Nunca como hoje", poema classificado em 20 numa escala de 0 a 20 pela revista literária Patanisca

Nunca te quis tanto como hoje
Nem quando te tive
Nem quando te queria
Hoje acordei contigo
E tu longe
Longe
E perto do meu coração
O teu toque era tudo o que eu queria
Ou a tua palavra
Hoje
Mais do que nunca
Nunca como hoje

Fui para a rua
Queria-te
Hoje
Já disse isto mas era mesmo hoje
7/12/2009
Hoje!
Procurei-te onde não te queria encontrar
E não é que
Foda-se
Encontrei-te
De mão dada
Não eras tu
Que susto
Vomitei o chão
Bebi uma mini
Acalmei-me com um Lucky Strike
Desde que ouvi falar na lenda que só fumo desse veneno

Olhei
Olhaste
Cruzámo-nos
Ias a falar com a tua amiga
Mas paraste
Eu parei
Ela não parou e continuou a falar sozinha
Toda a gente na rua olhava para ela
Que maluquinha
Mas eu não
E tu não
E agora?
Era isto que eu queria
E agora?
Nunca te quis tanto como hoje
E agora?
Sorriste para mim
Tremi
E alguém atrás de mim disse olá
Era para ti
Tu não sorriste para mim
Sorriste para trás de mim
Tu não me viste
E quem estava atrás de mim beijou-te
Foi o beijo mais nojento de sempre
Vi a vossa língua
Que nojo
Arranjem um quarto
Espera, não arranjem nada
Fica aí
Fica.
Fica.
Não vás já
Eu sou o teu cãozinho se quiseres
(cãozinho não existe, o diminutivo de cão é canito mas eu quero escrever cãozinho, tá-se bem? o poema é meu)
Só quero um sim
Nunca como hoje
Olhei para o rabo dele
Tinha ar de larilas
Calças brancas justas
Sapatos a brilhar
Camisa desapertada
Cinto à avec
Gel no cabelo
Não
Não pode ser

Despreza-me
Mija-me em cima
Caga-me na cabeça
Diz que eu sou um chato de merda
Mas não me humilhes a esse ponto
Ao ponto de andares por esse mundo
com um Azeiteiro

Fala comigo
Ou responde-me com os olhos
Assim não.
Mijei-me pelas pernas abaixo
Voltei a vomitar
Sangrei do nariz e da boca
E as orelhas jorraram um líquido indescritível de tão sujo que era
E eu caí
caí
no chão duro
E tu mais dura ainda
E ela que ficava tão dura de pensar em ti
Soltou mais um pinguinha

Não sei o que me aconteceu depois
Acordei ao teu lado
Eu nos cuidados intensivos
Tu também
Ele espancou-te
E eu sorri quando soube
E depois fechei os olhos
Nunca te desprezei tanto como hoje
Nunca te amei tanto como hoje

E o meu problema
Já não eras tu
Era não me lembrar do PIN

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