11 de setembro de 2010

O comprimido: Manual de criação de uma música pimba

Depois de um verão em que os Chave d'Ouro tiveram o hit mais ouvido "O pai da criança" faz sentido explicar aos portugueses (e a pessoas de outros povos que lêm este blog) como se faz uma música pimba. O que se segue é uma simples criação minha intitulada "O comprimido" com 5 quadras (duas antes do refão, refrão, outras duas e refrão novamente) que atinge todos os canônes que a música brejeira portuguesa necessita. Passemos então a analisar quadra a quadra:

Quando era um rapazote
Passeava de carreira
Hoje tenho um carro
E dou boleia à aldeia inteira

Para iniciar nada como uma referência às origens típica dos grandes temas pimba, que tanto pode ser à infância como ao local onde a personagem da música habita Pode ver-se nos trecho de outras músicas "Quando eu nasci a minha mãe não tinnha leite", "Na minha rua mora uma sopeira", "Lá na rua onde eu moro" qu um verdadeiro artista pimba não renega as suas origens. Esta primeira quadra serve também para contextualizar o ouvinte e ter um suporte de uma história para a brejeirce que se seguirá.

A minha vizinha tem enjoos
E vomita se não tem cuidado
Eu dou-lhe um comprimido
E fica logo o caso arrumado

Do geral para o concreto, a temática centra-se agora na vizinha (a vizinha é e será sempre parte
integrante e indissociável de uma composição pimba),nos seus enjoos e na solução encontrada: um comprimido que dá o nome à música. Obviamente que o comprimido é figurado e encarna em si um duplo sentido que apela à criatividade do sabujo ouvinte. Também uma referência á palavra carreira, que consegue vencer camioneta e autocarro no que respeita à ruralidade da língua.

Ela abre a boca
E eu meto o comprimido
Ela abre a boca
Fica tudo resolvido

Ela abre a boca

E eu meto o comprimido
Ela abre a boca
Fica tudo resolvido

O refrão é de simples audição e portanto fácil de ficar no ouvido. Com uma simples mensagem, a plebe irá gritar a plenos pulmões a resolução do problema!

Na primeira viajem assustei-me
Ela gritava sem parar
Mas com o comprimido na boca
Nem consegue falar

Quando há curvas
Os gemidos dela deixam-me nervoso
Mas na boca dela
O comprimido é mais gostoso!

A segunda estrofe de uma música deste género serve para reforçar a ideia inicial e fazer mais algumas metáforas mais ou menos elaboradas. O recurso à piada fácil é necessário para manter os ouvintes alerta. Neste caso fala-se do facto de o comprimido deixar a boca cheia e impossível de falar (o que será que é afinal o comprido perguntará o ouvinte mais desatento) e para terminar utiliza-se a palavra gostoso que o mestre Quim Barreiros trouxe para este mundo musical. Repare-se ainda que a primeira quadra deste conjunto rima com verbos, o que deve ocorrer pelo menos uma vez em cada música pimba. Se tal não for possível deve rimar-se com diminutivos

Ela abre a boca

E eu meto o comprimido
Ela abre a boca
Fica tudo resolvido


Ela abre a boca
E eu meto o comprimido
Ela abre a boca
Fica tudo resolvido


Até ao fim o refrão repete-se várias vezes, sendo que num baile o número de repetições é directamente proporcional ao número de pessoas que dançam ou cantam a composição.
Para uma próxima ficará o manual de criação de uma música forró, que difere da pimba apenas no sotaque e no número de diminutivos

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta música faz-me lembrar uma musica pimba, não sei se deves conhecer, pouca gente a conhece, e ao seu interprete tb.. chama-se "Mete o carro tira o carro" do Quim Barreiros. Conheces?

Muito fixe... dedica-te à composição de letras pimbas!

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